Desde que eu comecei a pesquisar sobre o assunto do autismo, eu tenho encontrado uma infinidade de palavras que começam com o termo auto. Algumas delas são autocuidado, autoconhecimento, autoestima, autorrealização, autonomia, autobiografia e autodidata.
Essa quantidade de termos referindo-se a nós mesmos não é à-toa. O autismo nos direciona para que isso aconteça. Eu acho que não existe ninguém que se esforce mais do que os autistas para conhecer a si mesmo.
Junto com o autoconhecimento, vem também a descoberta de estratégias para evitar ou amenizar crises, socializar melhor, ter menos estresse e muitos outros benefícios. É interessante como alguns autistas conseguem aprender rapidamente o que faz mal a eles e o que eles gostam.
Muitos pais, assim que ficam sabendo que seus filhos são autistas, logo os colocam em várias terapias de intervenção. Na verdade, eles são até aconselhados a fazer isso. No meu caso, a única terapia que eu fiz foi conversar com a psicóloga. Mesmo assim, foram 11 sessões apenas, escalonadas em 4 meses. Por isso, eu não sou a melhor pessoa do mundo para falar de intervenções que funcionam.
Apesar disso, eu posso dar algumas garantias. Eu garanto que uma boa intervenção não vai forçar o autista a ter um comportamento “normal” para a sociedade. Esse tipo de tratamento só nos deixa mais experientes em criar máscaras sociais. Confeccionar máscaras hoje em dia é importante, mas máscaras sociais não deveriam existir.
Eu sei também que uma intervenção de qualidade não vai trabalhar com o que o autista não tem. Por exemplo, se as atitudes do autista estão muitíssimo infantis para a idade dele, as intervenções não podem obrigá-lo a se desenvolver 10 anos em apenas alguns meses. Isso não é intervenção, pois acaba lidando com a pessoa como se fosse apenas mais um objeto que precisa ser reparado o mais rápido possível para não causar “danos” à sociedade.
As intervenções adequadas precisam ensinar novas habilidades ao autista tomando por base os comportamentos que ele já tem. É assim que nosso cérebro trabalha. Ele aprende coisas totalmente novas usando informações antigas. É simplesmente impossível aprendermos algo novo do nada, num passe de mágica.
Eu também sei que intervenções devem ser personalizadas e levar em conta a individualidade da pessoa. Em outras palavras, o que funciona para mim, não funciona para o outro. Apesar disso ser tão óbvio, muitos que se dizem profissionais acabam se esquecendo, ou ignorando, esse ponto, principalmente quando se trata de técnicas “cientificamente comprovadas“.
Você com certeza já ouviu falar dessas técnicas. Eles costumam usar esse termo para mostrar que ela funciona. Entretanto, é importante entender o conceito por trás dessa expressão. Às vezes, só porque eles falam de “comprovação científica” acabamos concluindo que a técnica seja 100% confiável. Mas não é bem assim.
Quando se fala que uma técnica é “cientificamente comprovada” significa apenas que, se compararmos o número de resultados bem-sucedidos com o número de falhas, essa técnica tem maiores chances de funcionar. A isso, dá-se o nome de estatística. Logo, se você não estiver dentro dessa estatística, a técnica não tem 100% de chances de dar certo.
A situação é igual quando você vai comprar um shampoo novo, por exemplo. Esse shampoo funciona para todo mundo, exceto para você. É importante entendermos isso porque, por menor que seja a quantidade de falhas, você ainda pode fazer parte delas.
Então, só porque um método é científico não significa que ele seja à prova de falhas. Assim como numa linha de montagem, significa apenas que ele foi testado o suficiente para ser liberado à população.
E é nisso que muitos “profissionais” fracassam. Eles acham que uma receita pronta vai resolver todos os problemas de qualquer pessoa. Eles esquecem a individualidade do paciente. Cada um tem uma personalidade diferente e reações diferentes. É simplesmente impossível a mesmíssima técnica funcionar para todos.
Com todos esses pontos em mente, agora é possível entender a frase do título deste post: A melhor intervenção é aquela que fazemos em nós mesmos.
Os verdadeiros profissionais que trabalham com intervenções em autismo vão ensinar o próprio autista a encontrar a solução para uma crise iminente. As técnicas vão incentivar a pessoa a descobrir as causas dos seus próprios problemas. Eles podem até sugerir algumas soluções, mas caberá à pessoa decidir qual usar.
A terapia, seja ela qual for, vai ensinar a pessoa a tirar o foco da crise e a se concentrar em como evitá-la. Com o tempo, a pessoa já terá em suas mãos tantas alternativas para enfrentar suas dificuldades que ela não vai nem sentir mais uma certa crise.
É claro que as nossas circunstâncias mudam no decorrer do tempo. Por isso, algumas soluções vão ter que se tornar mais sofisticadas, e vai ter momentos que nenhuma vai funcionar. No entanto, isso não é o fim do mundo. Milhões de pessoas no mundo inteiro surtam de diferentes maneiras todos os dias. As pessoas não entram em crise porque são autistas, mas porque são seres humanos.
Permitir-se perder o controle também é assumir o controle. Quando nós entendemos que as coisas nem sempre acontecem do jeito esperado, nós crescemos como pessoa. Nenhum médico do mundo vai nos ensinar isso. Mesmo assim, é algo essencial para a felicidade.
Então, a respeito das terapias, não podemos nos concentrar demais nas técnicas. No final das contas, cada pessoa desenvolverá sua própria técnica. Posso chamar isso de autointervenção, e acredito ser a mais importante das nossas vidas.
Eu escrevi algumas técnicas que podem ser úteis para seu planejamento e controle das crises. Elas estão publicadas nos meus e-books da série As Melhores Técnicas de Organização Pessoal. Conheça a série pelos links abaixo.
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Estou te seguindo por aqui, só você para me fazer voltar a seguir blogs! 🙂
é a Gisella (Pedeconversa)! Meu Deus!!! Ao aceitar seu convite, apareceu um antiquíssimo blog meu Ato de Convidir… nem lembrava!
Que bom! Está cada vez mais raro as pessoas enviarem convites para visitarem blogs assim.
E mais raro ainda, alguém aceitar! Que bom que você aceitou!