O Burnout é uma crise resultante do excessivo esgotamento físico relacionado ao trabalho. Ela é muito comum, por exemplo, entre profissionais da saúde por causa da jornada de trabalho extremamente carregada. Esse esgotamento é diferente do cansaço comum porque, mesmo quando a pessoa dorme e come o suficiente, ela continua cansada.
A palavra burn significa “queimar”, e a expressão out dá a ideia de uma queima completa, onde não sobra absolutamente nada. O termo burnout significa “queimar completamente”. Sem dúvida, uma palavra muito apropriada para descrever o esgotamento físico total.
E no caso dos autistas? No caso deles, o burnout é mais grave ainda. Isso porque o cérebro autista está sempre mais propenso ao cansaço do que o de qualquer outra pessoa.
Os autistas têm dificuldade em gerenciar os estímulos do dia a dia. Além de terem que lidar com a luz e o som dos ambientes, eles ainda precisam se relacionar com várias pessoas no local de trabalho. E diferente do que acontece em casa, eles são obrigados a mascarar muitos comportamentos para não “manchar” o nome da empresa. Eles precisam se preocupar com tudo isso e ainda dar conta do trabalho.
Os autistas precisam, do momento em que acordam até o momento em que vão dormir, controlar o que dizer e quando dizer aos outros. Eles também precisam olhar para as pessoas, interpretar suas expressões faciais e gestos, interpretar o tom de voz delas, suportar o barulho da rua, responder aos cumprimentos dos vizinhos, lidar com a claridade de lâmpadas, e muitas outras coisas que deixam o cérebro deles superexcitado.
Eles também têm que lidar com reclamações, comentários preconceituosos, filas de mercado e bancos, questões financeiras, decidir qual ordem vão executar as tarefas, definir como vão fazer essas tarefas, alternar entre uma atividade e outra, e estudar em ambientes nem um pouco favoráveis. Para alguém que não é autista, muitas dessas atividades são muito comuns, feitas automaticamente. Mas, para um autista, tudo isso é extremamente cansativo.
Depois de um tempo executando todas essas tarefas sem conseguir um momento para se regular e relaxar, o autista pode ter tanto a Síndrome de Burnout, que já é bem conhecida, como o Burnout Autístico.
Qual a diferença? A principal diferença do burnout autístico para o burnout comum é que ele não é exclusivo do local de trabalho. Ele é decorrente das atividades citadas acima que são comuns no dia a dia da maioria das pessoas. Acontece que o cérebro autista já é, por natureza, um cérebro estressado. Então, é fácil para um autista ter uma crise mesmo com o mínimo de atividades na rotina.
Quais os sintomas do Burnout Autístico? Além do esgotamento extremo, o autista também passa a sentir:
- Aumento da sensibilidade à luz, som e toque;
- Extrema exaustão física e emocional;
- Aparente esquecimento de palavras aprendidas (principalmente crianças);
- Aumento na seletividade alimentar;
- Maior dificuldade em tomar decisões e alternar entre tarefas;
- Problemas de memória em geral;
- Perda habilidades sociais reduzidas e mais estereotipias;
Talvez, quem observe de fora, possa dizer que a pessoa parece que está “mais autista do que antes“. Essa expressão significa que a pessoa está demonstrando mais estereotipias que o comum, e pode ser sinal de que o autista está sofrendo com burnout.
Esses sintomas podem ser durar muitos meses, ou podem ser intermitentes, o que torna ainda mais difícil de serem observados. Do ponto de vista de outros, essas perdas de habilidades parecem ocorrer de maneira repentina, mas, na verdade, a regressão foi tão vagarosa que se tornou imperceptível.
Mesmo quando as habilidades retornam, pode ser que, em alguns casos, elas não voltem no mesmo grau que estavam antes do burnout. Mas, felizmente, isso é a minoria dos casos.
O tratamento do burnout em autistas exige uma terapia especializada e bem informada de todas as regressões para ajudar o autista a recuperar as suas habilidades sociais. É necessário muita paciência, tanto da parte do autista quanto de seu cuidador (caso haja), para a recuperação ser bem-sucedida. A terapia e o apoio dos amigos e da família vão ajudar o autista a lidar com sentimentos de frustração e raiva por não conseguir fazer as coisas como antes.
Para entender a seriedade do Burnout em autistas, leia os 2 textos abaixo da Priscilla Castro, do site Autistar Neurociência e Autismo. Tenho certeza que isso abrirá seu olhar sobre esse tema tão importante.
Referências
CASTRO, Priscilla Nogueira. Autistar – Neurociência e Autismo. Autismo e a Síndrome de Burnout: Parte I, publicado em 06 de abril de 2019. URL: <https://www.autistar.org/post/autismo-e-a-síndrome-de-burnout-parte-i>. Acesso em: 22 set. 2021.
—. Autistar – Neurociência e Autismo. Autismo e a Síndrome de Burnout: Parte II, publicado em 06 de abril de 2019. URL: <https://www.autistar.org/post/autismo-e-a-síndrome-de-burnout-parte-ii>. Acesso em: 22 set. 2021.
SWAIM, Emily. GoodTherapy. Autistic Burnout: An Often-Misunderstood Element of Autism, publicado em 06 de agosto de 2019. URL: <https://www.goodtherapy.org/blog/autistic-burnout-an-often-misunderstood-element-of-autism-080620197>. Acesso em: 22 set. 2021.
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