Alerta de Spoiler!
Este post tem spoilers do curta Fitas, que você pode assistir pelo Disney Plus. Se você ainda não conhece esse filme, recomendo que assista antes de ler o post.
O que você faria se estivesse no meio de um lago com uma autista não-verbal? Você tentaria puxar assunto? Ensinaria alguma coisa?
Esse é o “drama” vivido por Marcus quando se depara com o desafio de ter Renee, uma autista não-verbal, como companheira de canoagem. Como disse a diretora do filme, Erica Milson, é interessante juntar duas pessoas que, embora compartilhem de um interesse em comum, não sabem como conversar sobre o assunto.
Quando eu assisti o curta pela primeira vez, eu chorei bastante. Eu não sou autista não-verbal, mas me identifiquei com o que Renee e Marcus enfrentaram. Eu entendi o que se passava com Renee, mas me senti na pele de Marcus, pois eu também não saberia me comunicar com ela.
Gostei do modo como eles destacaram a visão dela. Ela nunca olhava diretamente para Marcus. Isso é diferente do que ocorre em outras animações onde o olhar nos olhos é essencial para transmitir uma emoção ou ideia. Renee olhou para os remos ao invés de olhar para Marcus, e essa foi a parte que surgiu a primeira evidência de que eu ia me emocionar até o final do filme.
O jeito como Marcus falava no início sobre as técnicas de canoagem foi muito interessante porque, embora ele estivesse realmente falando, dava pra ver que a comunicação não estava acontecendo. Isso mostra que falar não é sinônimo de se comunicar.
Depois, é possível perceber que Renee estava, de fato, ouvindo o que Marcus dizia. Quando ele perguntou: “O que você quer?” Ela olhou para a direção do banheiro e mostrou o desenho de cocô no celular. Tanto eu quanto Marcus entendemos que ela queria usar o banheiro. Mas, para a surpresa de Marcus (e minha também), ela só queria passar a mão nos juncos.
Quando a vi passar a mão nos juncos, eu desabei a chorar! Renee estava totalmente à vontade naquele momento, enquanto sentia de leve aquelas plantas na palma da mão. Mas eu não chorei por ver a Renee se sentir bem, mas sim por entender o que ela queria e perceber que Marcus finalmente estava entendendo também.
Embora eu não tenha essa sensibilidade e nem goste de colocar a mão nas plantinhas como ela fez, de alguma forma eu senti o mesmo que ela. Comecei a me perguntar se não havia algo no meu dia-a-dia que pudesse me fazer tão bem quanto aquelas plantinhas fizeram a ela.
Então, Marcus leva Renee para um túnel para que ela pudesse ouvir melhor o barulho que o aplicativo do telefone faz. Ela gostou muito da ideia, porque dentro do túnel é possível ver a água refletida num espectro bonito de cores e a acústica é bem melhor.
Mas, Renee fica super estimulada pelas cores, pela voz do Marcus, pelo barulho do telefone, pela luz do lado de fora do túnel e até pelo forte barulho do motor do barco que está se aproximando. Em seguida, ela passa por um meltdown e fica escondida no barco.
Marcus fica sem saber como reagir e entra em desespero, o que acaba piorando a situação. Renee fica um bom tempo escondida debaixo da canoa para se proteger dos estímulos e se regular.
Nesse final do curta, acho interessante a atitude de Marcus depois que ele finalmente começa a raciocinar sobre como pode ajudá-la de verdade. Ao invés de forçar a Renee a voltar, ele simplesmente aguarda. Marcus também não toca em Renee em momento algum. Quando ele vê que Renee está mais calma, ele pega um ramo dos juncos e entrega para ela.
Eu achei muito bonita essa cena e, claro, também chorei nessa parte. Acho que não teve nenhuma parte do filme na qual não tenha chorado.
Foram 7 minutos e 15 segundos de filme, mas foram muito mais emocionantes para mim do que vários outros filmes de 2 horas de duração. O melhor de tudo é que Marcus e Renee se tornam amigos e combinam de voltar para mais um loop de canoa.
Conclusão
Acredito que filmes com histórias íntimas como essa me ajudarão a colocar para fora muitas das emoções que estão “travadas”. Espero encontrar mais filmes assim!
Além disso, expôr a realidade da vida de autistas não-verbais de uma forma real e ao mesmo tempo graciosa como foi feito nesse filme vai ajudar milhões de pessoas a entender melhor como ajudar autistas em crise.
E você? Já tinha assistido esse curta-metragem? O que achou da dinâmica de Marcus e Renee? Quais foram suas impressões e críticas?
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