De início, pode parecer um pouco estranho dizer que um pensamento seja resistente, mas eu o vejo dessa forma. Como assim?

O estranhamento se dá porque o pensamento é algo que não enxergamos. Mas isso não significa que ele não tenha força. Por exemplo, o vento é invisível, mas sabemos que ele é forte o suficiente para criar ondas enormes no mar. Então, coisas invisíveis também podem ser resistentes. Na verdade, é justamente a característica de ser invisível é que pode tornar algo mais forte do que parece. Afinal, como quebrar algo que não estamos vendo?

Eu usei a palavra aço porque é o que geralmente associamos quando falamos de algum metal resistente. É um dos metais mais usados na construção civil. É ele que mantem prédios e pontes sempre de pé. Mas tem um problema com o aço. Ele é rígido. Ele é diferente daqueles balões que podem ser contorcidos para formar animaizinhos. Uma vez o aço tendo sido fabricado, o formato dele nunca muda. Se tentarmos alterar o formato de uma viga de aço, ela simplesmente quebra.

Por outro lado, nossos pensamentos são flexíveis. Eles podem ser moldados conforme a circunstância e podemos criar quantos pensamentos forem necessários. Mesmo assim, é interessante como que, sem querer, tornamos nossos pensamentos tão rígidos quanto uma viga de aço.

Um pensamento rígido que eu tinha era a respeito da comunicação. Eu cresci num ambiente cujo principal meio de comunicação sempre foi a voz. Eu adotei isso como um padrão, uma normalidade. Isso significa que qualquer um que não usasse a voz seria tido como deficiente. Esse tipo de pensamento costuma ser mais rígido que o aço.

Entretanto, eu conheci famílias cujo principal meio de comunicação era as mãos. Tratava-se de famílias onde todos eram surdos, e surdos de nascimento. Agora, numa situação assim, quem precisaria ser “normalizado”: eles ou eu? A resposta é: tanto faz. Afinal, assim como meu pensamento pode ser rígido em relação ao uso da voz, o pensamento deles também poderia ser rígido em relação ao uso das mãos. Eles não podem exigir que eu aprenda a Língua de Sinais, e eu não posso exigir que eles aprendam a falar. Mas eu aprendi a Língua de Sinais mesmo assim.

E nos últimos meses, eu tenho visto essa questão da comunicação de uma maneira totalmente nova e inesperada. Eu nunca imaginaria que pudesse haver crianças que não conseguissem verbalizar do mesmo jeito que nós fazemos. Elas repetem as falas dos outros e dos desenhos que elas gostam de assistir. Outras também fazem barulhos que nós consideramos esquisitos e sem sentido. Apesar da minha mente estar sempre aberta a coisas novas, essas situações me surpreenderam bastante, mas por pouco tempo.

Será que essas crianças estão fazendo algo errado? Será que elas não precisam de ajuda para usar melhor a fala? Talvez sim, talvez não. A verdade é que o nosso pensamento rígido de que deve existir apenas 1 maneira de comunicar acaba prejudicando essas crianças.

Vamos pensar um pouco: quem determinou que B com A é necessariamente BÁ? Agora, pergunte isso a uma criança que tenha nascido na China, ou nos EUA, ou em qualquer outro país. Peça para elas juntarem as sílabas do mesmo jeito que nós fazemos. A pronúncia pode até coincidir em alguns países, mas o significado será diferente. Nesses países, você é que será o “estranho”; você que estará fora do padrão. Nós estamos acostumados a falar de fronteiras entre países, mas será que não criamos uma fronteira com essas crianças?

Embora eu esteja falando de crianças, eu sei que elas acabam crescendo e se tornando adultas. Algumas aprendem a usar a linguagem assim como a maioria faz. Outras não. E como adultos, não podemos ignorar a importância de se comunicar do jeito que as pessoas fazem.

Afinal, é isso que vai garantir, por exemplo, que a gente tenha um trabalho para se sustentar. Assim, da mesma que não podemos ser rígidos ao olhar para o modo de se comunicar desses adultos, eles também não podem ser rígidos ao olhar para o nosso meio de nos comunicar. Os dois lados precisam se entender.

Concluindo, quando eu falo de pensamentos fortes como aço, eu me refiro a pessoas que não conseguem mudar o jeito de entender as coisas e que ficam na mesmice o tempo todo. Elas não se esforçam para compreender que existem mais de uma forma de fazer alguma coisa. Ao mesmo tempo, pessoas que têm a mente flexível também são tão fortes quanto, ou até mais forte do que um aço, porque não deixam que pequenos incômodos as impeçam de crescer.

E aí? O seu pensamento é forte como um aço? Ou é flexível?


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