Imagine uma fila de pessoas andando. Você observa essa fila de pessoas totalmente desconhecidas. De repente, seus olhos se viram para algo incomum. No meio da fila, uma pessoa está andando de costas! Agora, não importa para quem você olhe na fila, você não consegue tirar os olhos dessa pessoa.

O que aconteceu? Uma palavra: diferença. Uma das pessoas decidiu andar diferente, seja porque estava entediada, seja porque queria chamar atenção. Note que apenas 1 pessoa andando diferente foi o suficiente para tirar a sua atenção.

Agora, imagine que todas as pessoas dessa fila comecem a andar de costas. Com certeza isso chamaria sua atenção também, mas nem tanto. O jeito de andar dessas pessoas está diferente do seu, mas todas elas estão iguais umas às outras. Nesse caso, se uma pessoa dessa fila começasse a andar de frente, aí sim ela chamaria a sua atenção.

Para nos destacarmos de outras pessoas, precisamos fazer algo diferente enquanto todas elas estão fazendo igual. É assim que chamamos a atenção dos outros.

Nós, autistas, já nascemos diferentes. Diferentes de quem? Diferentes da maioria que não nasce autista. Isso não é essencialmente ruim porque nós nos tornamos facilmente reconhecíveis na multidão. Mesmo que os nossos atributos físicos, como o jeito de falar e andar, não sejam peculiares, em algum momento nós nos destacamos na multidão. Em algum momento, as pessoas olharam para nós e percebem a nossa diferença. Nunca somos esquecidos por causa disso.

Não importa se as pessoas se lembram de você por causa de algum evento bom ou ruim na sua vida, você pode usar isso a seu favor. À essa altura, qualquer coisa que você fizer vai surpreendê-las, e isso te dará uma grande vantagem.

Entretanto, ao mesmo tempo que somos diferentes de quem não é autista, isso não acontece com muita frequência quando estamos próximos de outros autistas. Não é que nós queiramos ser melhores do que os outros, mas acontece de termos algo muito importante para dizer, mas nem sempre recebemos a atenção que queremos de outros autistas.

Isso é normal, e acontece em todas os grupos, por mais perfeitas que elas sejam. O que não pode acontecer é nos considerarmos melhores do que os outros autistas por não compartilharmos de determinadas limitações. Por maior que seja o nosso repertório de habilidades, nenhuma dessas habilidades substitui a humanidade.

Se você tem algo importante para dizer para os autistas, diga! Faça isso de um jeito diferente e inusitado. Todos irão gostar muito disso.

Recentemente, eu conversei com uma autista que elogiou muito aqueles que a seguem no Instagram. Ela disse que se sente segura e que gosta muito dos perfis dos autistas. Outra coisa interessante que ela comentou é que ela quer investir mais nas relações com seus seguidores. “Eu me sinto contemplada”, ela disse.

Sem dúvida, queremos continuar gerando esse tipo de comentário, não é mesmo? E se quisermos nos destacar, que seja pelas nossas excelentes qualidades e amizades que formamos ao longo do tempo.


Eu sempre fui diferente das pessoas, e nunca conheci 1 autista sequer até meus 26 anos, pelo menos não conscientemente. Eu falo sobre essa minha diferença no meu livro Autismo Aos 26, que você pode ler clicando no link abaixo.

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