É engraçado ser conhecido pela deficiência, já que ter uma deficiência implica em faltar algo em você. Eu só comecei a escrever na internet com mais intensidade depois de descobrir o autismo. A verdade, no entanto, é que eu sempre me interessei pela escrita.

A minha máscara social

Então, por que eu não escrevia antes? A razão: máscara social. Eu era rotulado como “nerd”, conhecedor de informática, o menino que “aprende rápido”, o garoto que era viciado em videogame e outras coisas, exceto escritor.

Ninguém nunca usou esses termos de modo pejorativo, o que, por si só, já é muito bom. Só que isso não me impediu de dar a mim mesmo meus próprios apelidos. Eu queria ser conhecido pelo que os outros falavam que eu era, e isso foi um grande um problema.

Ao mesmo tempo que eu gostava da escrita, eu me refreava de escrever para não causar uma “má impressão”. Na escola, eu tentava me destacar em matemática e atividades que exigiam cálculos. Por isso, eu nunca dava 100% quando eu precisava escrever um texto.

Eu não ligava muito pra isso na época, mas hoje eu percebo que isso me impactou bastante. Eu sempre tive muito mais coisas para escrever do que para calcular. De certa forma, eu não recebia incentivo, porque ninguém da minha família era conhecido por saber escrever. Por isso, eu pensava que eles não queriam que eu escrevesse também.

A questão da família

Mas minha família gosta de escrita. Eles gostam de textos e poesias. O que acontece é que os meus parentes se sustentam com atividades mais práticas, que demandam esforço físico. Afinal, é muito mais fácil conseguir um emprego de limpador de alguma coisa do que de escritor de outra coisa.

Dessa forma, eles tiveram que ocupar boa parte do tempo deles trabalhando e se dedicando aos filhos do que lendo e escrevendo. Também, minha família só veio a conhecer e usar a internet a partir de 2010. Então, mesmo que eles se dedicassem à escrita quando eram jovens, dificilmente alguém da minha família ficaria conhecido como escritor.

A lição que eu aprendi

No entanto, já estamos em 2021, e eu posso dizer que aprendi uma lição muito importante: não era o que eu achava que eles queriam pra mim, mas o que eu gostaria que fosse. Pelo que eu quero ser conhecido? Quando quiserem pesquisar meu nome, o que as pessoas vão encontrar? Meu nome vai estar vinculado a quê?

Atualmente, eu estou associado a Autismo. Mas, se você ler com atenção cada post deste site, vai perceber que eu não falo do autismo em si. Eu também não explico o autismo. Este site é muito mais sobre mim do que sobre o autismo.

O meu dom

Dessa forma, eu fico conhecido por dedicar parte da minha vida a escrever sobre autismo. Só que antes disso, eu ficarei sendo conhecido como escritor. Eu não escrevo apenas para organizar as ideias. Eu também não faço isso apenas por hobby. Eu estou transformando isso numa ocupação.

Eu posso escrever muito, mas também posso escrever pouco. Eu gosto de escrever, e acho que é o meu dom, ainda que desenvolvido tardiamente. Mesmo assim, espero que não tenha sido tão tarde assim.

Assim, eu posso dizer com firmeza que o meu dom não é ser autista; meu dom é escrever.


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