Eu me considero privilegiado por ter uma família que tem a mente aberta o suficiente para entender que eu sou, de fato, autista. Mesmo assim, eu ainda me refreio de falar abertamente sobre o autismo. Eu não converso sobre minhas descobertas com eles. Tudo que eu tenho a falar sobre isso está no Instagram e aqui, no meu site.
Infelizmente, a situação não é a mesma para outros autistas. Muitos descobrem que ter a aceitação da família pode ser tão difícil, ou mais, do que conseguir o diagnóstico. Esse talvez seja o tipo mais difícil de preconceito de se enfrentar, porque ele vem de pessoas que amamos de verdade.
A primeira reação que eu tive quando descobri o meu autismo foi: “Eu preciso contar pra todo mundo quando eu chegar em casa.” Só que tem um problema nesse pensamento. O problema é que, assim como eu precisei me preparar para receber a confirmação do autismo, eu precisava preparar os meus parentes para isso. Eles precisavam saber algumas coisas antes de eu dizer que era autista.
O autismo ainda é algo novo para mim. Portanto, isso deve ser novo para eles também. Como eu poderia preparar meus parentes para dar a notícia? Eu não sou bom em ser devagar para dar notícias. Eu sempre falo as coisas de maneira muito direta, e claro que as respostas das pessoas também são igualmente diretas. Assim, eu preferiria não saber das reações das pessoas, porque eu não sei muito bem como gerenciar essas reações.
Eu precisava preparar meus parentes de uma forma que eu me sentisse confortável. Eles tinham que entrar no meu ambiente. Por isso, eu decidi escrever, e não falar. Eu sempre me senti mais confortável escrevendo. Eu sabia que, se eles estivessem realmente interessados em mim, eles iriam ler tudo.
Eu comecei, no dia 2 de abril, a publicar posts no Instagram sobre meus sentimentos recém-descobertos. Em 25 de maio, eu publiquei meu livro Autismo Aos 26. Eu também publiquei alguns textos no Facebook falando da conscientização do autismo. Rapidamente, todos os meus parentes ficaram sabendo que eu era autista. Eu só precisava lidar com as reações deles.
E como foi a reação deles? Como eu disse no início, minha família tem a mente aberta. Além disso, eu tenho um primo que é autista, e meus pais e irmãos nunca foram de ir em festa ou de socializar. Tudo isso me deixou numa situação bastante confortável, e eu podia me concentrar em me conhecer. As minhas circunstâncias foram favoráveis para o meu desenvolvimento.
O que eu aprendi com isso foi:
É tão importante a família aceitar o autista quanto o autista aceitar a si mesmo.
Se recebêssemos o diagnóstico de uma doença seríssima e que tivéssemos só mais alguns meses de vida, tudo que gostaríamos seria estar perto de parentes que nos amam. Mesmo que eles não pudessem fazer nada para nos curar, eles poderiam estar ao nosso lado quando nos sentíssemos sozinhos, porque qualquer dia ao nosso lado poderia ser o último.
Bem, o autismo não é uma doença degenerativa. O diagnóstico não nos diz quantos meses de vida ainda nos resta. Nós não mudamos de personalidade depois do diagnóstico. Nós só passamos a conhecer melhor a nós mesmos. Por isso, o jeito como nossos parentes nos tratam não deve mudar. O que deve mudar é só o jeito que recebemos apoio.
Agora, com melhor consciência de nós mesmos, podemos dizer com mais clareza o que nos faz bem e o que nos faz mal. Mesmo assim, reconhecemos que essa percepção pode mudar no decorrer do tempo. Uma coisa que nos faz mal hoje pode nos fazer bem amanhã e vice-versa. Essas são as únicas coisas que nossos parentes precisam saber. Tenho certeza de que os seus parentes querem o seu bem, mesmo que de um jeito um tanto atravessado.
Não importa o que seus parentes pensam sobre o autismo e sobre você. Os dois lados precisam se esforçar para se entender. E a única maneira possível para que isso aconteça é através daquilo que muitas vezes fugimos: comunicação.
Você, que tem um parente autista, precisa pesquisar sobre o autismo. Mas não comece de qualquer jeito. Peça a ele algumas referências de pessoas confiáveis. Tenha paciência para ouvi-lo.
Eu, por exemplo, escrevo muito. Então, quem quiser me entender, precisa ler muito também. Eu percebi que muitos autistas falam bastante. Por isso, tente não interromper quando ele estiver explicando e não tire as conclusões no lugar dele. Nunca duvide do que ele está sentindo e nem do diagnóstico dele.
Agora, você, que é autista e quer ajudar um parente a te entender melhor, precisa ser compreensivo. Nem todos dispõem do mesmo tempo para ler matérias sobre autismo. As palavras das pessoas nem sempre representam suas intenções.
Você talvez escute: “Você não parece autista.”, “Eu conheço um autista e ele não é assim como você.”, “Eu li sobre autismo na internet e eu não acho que você seja autista.” Encare essas frases como um mero ponto de vista. Essas frases fazem parte da construção do raciocínio dele, e podem não ser o que ele pensa de verdade sobre o assunto. Não destrua uma conversa inteira só por causa de uma frase fora de contexto.
Pense em como o seu parente gosta de se comunicar e se informar. Ele gosta de vídeos? Ele gosta de ler? Ele gosta de redes sociais? Esteja disposto a entrar no terreno dele para que ele te entenda melhor. Isso pode exigir uma energia extra, mas se fizer direito, só terá que fazer uma vez. Lembre-se que podem ser necessárias várias tentativas até ele entender. Se, depois de tudo que você fizer, ele não entender, tudo bem! Não é o fim do mundo. Você não pode se culpar pelo pensamento que os outros decidem ter.
Eu gosto de pensar no melhor das pessoas, e eu sei que, uma vez que uma mente seja aberta, ela jamais poderá ser fechada. Por isso, vale a pena ter paciência com os parentes que ainda não entenderam bem o que o autismo significa para nós.
Não importa quem seja o autista e nem quais sejam suas realizações, tenho certeza que elas serão maiores e melhores com o apoio da família. Será que nossos parentes não merecem presenciar nosso progresso? A nossa alegria será muito maior se os incluirmos em nossas vidas.
Esse assunto sobre aceitação do autista dentro da família é muito importante. Por isso, eu escrevi um livro sobre o assunto direcionado para as mães de autistas. O título é Conselhos para Mães de Autistas, e você pode ler uma amostra no link abaixo.
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