Pergunte se ele está bem Pergunte pra onde ele vai Pergunte com o que ele trabalha Pergunte o nome dele. Não corra Não converse com ele Não pergunte isso Não suba ali Não fique em pé no sofá Não mexa na água Não fique girando Não grite Não brinque assim. Senta direito Pare de bater os pés Olhe nos meus olhos Preste atenção Use o brinquedo direito Solte esse brinquedo Abraça ele Fale naturalmente Seja você mesmo.
Essas são apenas algumas das coisas precisamos fazer para nos integrar à sociedade. As regras sociais estão aqui antes de nossa existência. Por isso, parece justo, e até lógico, que nós tenhamos que nos adaptar a elas e não o contrário.
No entanto, é necessário ser flexível. Sem flexibilidade, não há liberdade. Além disso, as pessoas dizem que toda regra tem exceção. Posso dizer, então, que os autistas são a exceção personificada.
O problema é que as pessoas exigem o comportamento, mas não exigem o sentimento. O sentimento é muito mais importante, porque ele nos deixa à vontade para expressar um comportamento. Quando exigimos de alguém um comportamento sem nos importarmos com o sentimento, estamos criando uma pessoa oca e vazia, que não vai encontrar felicidade por mais bem-sucedida que pareça.
Existe um consenso, não bom senso, de que um comportamento X revela um sentimento X equivalente. Mas isso é um consenso, ou seja, algo que a maioria das pessoas diz ser. Embora eu acredite na inteligência coletiva, eu não posso dizer que todos os conceitos ditados pela maioria estão certos. É até perigoso deixar-nos guiar pela maioria.
No caso dos autistas, os nossos comportamentos nem sempre estarão conectados aos sentimentos que a maioria das pessoas atribuiria. É aí que começa diversos problemas. Mas esses problemas não estão nos autistas e nem nas pessoas que nos observam. O problema está na aparente incoerência entre o comportamento aceito pela maioria e o sentimento expressado.
Eu estudei programação por um tempo. Eu aprendi que existem diversas linguagens de programação que funcionam num mesmo sistema operacional. Só que existem algumas linguagens que não funcionam. Elas precisam ser adaptadas. Por quê? Porque o sistema operacional não possui os pré-requisitos para codificar a linguagem. Mas isso não significa que seja impossível. Só é necessário uma adaptação.
É esse tipo de adaptação que os autistas procuram. Muitas vezes, nós nos submetemos a um sentimento que não nos pertence só para sermos admitidos pelo comportamento. Seria bom se não precisássemos disso, mas, como eu falei antes, a sociedade humana existe antes de qualquer um de nós nascermos e ela tem um padrão de funcionamento. Entretanto, isso não a impede de se adaptar aos autistas.
Quando alguém entende que um comportamento X do autista revela um sentimento Y, tudo fica mais fácil. Ele não vai ter medo de mostrar o que sabe do jeito que ele gosta de fazer, e nem vai ficar com receio caso você dê um conselho sobre como se comportar. Isso porque todos ao redor o compreendem e querem tornar a vida dele melhor, e não igual a dos outros.
Dessa forma, não teremos necessidade de criar um sentimento que não nos pertence. Vamos sentir o que queremos sentir, mesmo que isso não pareça fazer muito sentido. Isso é que é flexibilidade: aceitar o sentimento do outro. Assim, a adaptação será feita com muito menos sofrimento.
Eu sempre tive problemas para conciliar o que eu sinto com o que eu faço. Eu deixei isso explicado no meu livro Autismo Aos 26, que você pode ler no link abaixo.
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