Um dos homens mais fortes do mundo, Kevin Fast, conseguiu puxar, nada mais, nada menos, do que um avião de 188 toneladas! (SUPER INTERESSANTE, 2018). No entanto, por mais forte que seja, ele jamais conseguiria carregar uma culpa que não fosse dele.

Agora, imagine você andando pela rua e se dispõe a ajudar uma pessoa a levar suas sacolas. Você pega as sacolas, e enquanto você está distraído, a pessoa sai correndo na frente te deixando sozinho com as coisas dela. O que você faria? Deixaria as sacolas no chão? Levaria pra casa? Daria pra outra pessoa?

Alguns problemas nós já nascemos com eles. Esses Não são culpa nossa. Repetindo: se você nasceu com algum problema, ELE NÃO É SUA CULPA.

Tem outros problemas que nós adquirimos ao longo da vida. Alguns podem ser culpa nossa sim, mas, para muitos outros, nós assumimos uma culpa que não nos pertence. Isso é muito perigoso. Uma hora, esses problemas vão pesar e a culpa se tornará pesada demais para levar.

Desde o final do ano passado, uma série de acontecimentos têm se alinhado para me causar grande ansiedade. Eu achava que a culpa por essas coisas era minha. A minha primeira reação foi: “Eu devia ter reagido melhor a isso.” Só que falar assim era o mesmo que carregar um peso que não era meu.

Agora, dois desses acontecimentos eu aproveitei para me auxiliar. O primeiro foi a descoberta do autismo. Com isso, eu descobri que eu não poderia ter lidado melhor com aquelas situações. Não era falta de experiência; era incapacidade mesmo. Só com isso, eu joguei várias sacolas no lixo.

O segundo acontecimento foi a quarentena. Estou aproveitando esse período para me livrar de alguns sentimentos. Na prática, significa mudar alguns hábitos, mudar o método de trabalho e deixar de ter contato com algumas pessoas. Eu estou meio que escondido na quarentena enquanto vou mudando. Aos poucos eu vou jogando as sacolas da culpa no lixo.

Quando eu vi como a poluição em alguns países diminuiu, eu percebi que eu devia fazer o mesmo comigo. Tá na hora de me livrar de toda poluição que eu acumulei por não saber que era autista. Eu não sei quanto tempo eu ainda tenho. Preciso fazer isso antes da quarentena terminar. Pensando bem, mesmo que eu não consiga fazer a tempo, o que me impede de dar um grito de “Basta!” e parar tudo? Não vou fingir que está tudo perfeito. Vou me “purificar” durante o tempo que for necessário.

Se você tem uma culpa que não lhe pertence, jogue fora. Se você não consegue arremessá-la sozinho, peça que alguém te ajude a levantá-la. Só não finja que está bem. Você só estará enganando a si mesmo, e não vai chegar muito longe desse jeito.

Imagine as culpas que você tem carregando sejam tijolos. Num dado momento, você vai usar apenas os seus próprios tijolos para construir sua casa. O resto vai ficar sobrando. Eles não são seus. A culpa não é sua.