Num mundo de mensagens instantâneas, ser considerada uma pessoa lenta é inaceitável. Pelo menos é isso que todo mundo tenta parecer.
Meus pais nunca me compararam com meus irmãos, mas eu sim. Eu sempre me vi na obrigação de seguir os passos deles ou de, pelo menos, alcançar meus objetivos na mesma época que eles.
Só que o meu cérebro autista não se desenvolveu na mesma velocidade do cérebro dos meus irmãos. Isso não é ruim. O problema era que eu não sabia disso.
Eu achava que conseguiria morar sozinho depois dos 18 anos. Eu achava que seria capaz de manter um namoro e me casar a partir dos 23 anos. Eu não consegui morar sozinho; eu não consegui manter um namoro; eu também não consegui me casar. Mas eu consegui manter um emprego, e gostei disso.
Eu sempre aprendi as coisas mais rápido que meus irmãos. Acho que essa é a minha única vantagem. Então, eu imaginava que conseguiria me adaptar mais rápido também.
Mas isso era pura ilusão. Adaptar e aprender não são sinônimos. Por isso, eu sofri muito tentando fazer as coisas no mesmo ritmo que os outros.
De repente, no meio de 2020, eu percebi que tinha parado de seguir o ritmo das pessoas. Eu tomei consciência de que eu não estava mais pedindo permissão ou solicitando aprovação para certas decisões.
Quando eu notei isso, eu me senti sozinho, como um barco que tinha se afastado por tempo demais da costa. Eu chorei muito, porque meu corpo inteiro pedia pra voltar, mas minha razão apontava para a direção oposta. Será que esse é o caminho da independência? Não importa, desde que seja o meu caminho.
Eu ainda estou nesse mesmo caminho. Onde ele vai me levar, eu não sei, mas dessa vez eu não pretendo voltar. Eu pretendo pedir ajuda para continuar, se necessário, pois eu tenho certeza que isso será necessário.
Sabe por que é bom estar nesse caminho? Porque eu sinto que estou acrescentando algo ao mundo, e não tirando. É como se eu fosse uma música totalmente nova, recém-lançada, com um ritmo e melodia próprios.
Assim como uma música não agrada a todo mundo, eu também não vou agradar. Eu finalmente sinto que tenho chance de alcançar meu público, e não vou permitir que nada tire isso de mim.
E você? Você teve ou está tendo dificuldades para alcançar o caminho da independência? Por que não comenta aqui embaixo? Tenho certeza que sua experiência vai enriquecer muito esse texto.
Conheça mais sobre como eu “me afastei da costa” no meu livro Autismo Aos 26. Tenho certeza de que você vai se emocionar.
