Quando eu li sobre os sinais de autismo, a palavra que eu mais li foi dificuldade. Eu li que autistas têm dificuldade em socialização, dificuldade na comunicação, dificuldade em olhar nos olhos, dificuldade com jogos de imaginação, dificuldade em focar num trabalho e terminá-lo, dificuldade em expressar seus sentimentos, dificuldade para se alimentar, e por aí vai.
Eu me identifiquei com a maioria dessas dificuldades, e acho que todos os autistas se identificam com uma ou mais delas. Estar ciente dessas dificuldades me deixou mais confiante. Eu passei a enxergar um pouco melhor o caminho que eu deveria seguir ou evitar. Assim, ficou mais fácil esconder essas dificuldades de pessoas que não precisam saber delas.
Entretanto, é importante voltar a nossa atenção ao significado da palavra. Se nós temos uma dificuldade, significa que precisamos nos esforçar mais para realizar algo. Isso não mostra que sejamos incapazes. Tanto é assim que muitos usam a expressão “superar as dificuldades”.
Superar não é o mesmo que suprimir. Quando superamos uma dificuldade, ela continua lá, visível a todos que quiserem ver. A diferença é que ela não nos afeta a ponto de deixarmos de cumprir as atividades necessárias e desejadas.
Suprimir pode incluir um pouco da superação, mas a ponto de ninguém mais conseguir enxergar a dificuldade. Isso exige muito mais energia e muito mais tempo. Em alguns, casos fazer isso está relacionado à preocupação para preservar uma certa imagem diante dos familiares e amigos. Só que preservar essa imagem por muito tempo pode ser desgastante. O melhor a fazer, portanto, é tentar superar e não suprimir os problemas.
Agora, existem coisas que realmente não dá para fazer. Essas são nossas limitações.
Por exemplo, nenhum ser humano consegue voar. Essa é uma limitação que todos nós temos. Isso não é uma dificuldade porque ela não pode ser superada com tempo e esforço. Uma limitação tem que ser carregada pela vida inteira. O perigo está em transformar uma dificuldade em limitação.
Vou citar alguns exemplos pessoais:
- Eu tenho dificuldade em manter uma amizade, mas se eu parar de conversar com quem já é meu amigo, eu vou acabar sem ninguém.
- Eu tenho dificuldade em jogos de cartas, mas se eu parar de aceitar convites para essas brincadeiras, eu nunca vou aprender e nem melhorar.
- Eu tenho dificuldade em expressar meus sentimentos, mas se eu parar de falar sobre isso, eu nunca vou me entender de verdade.
Nunca sabemos o que vai acontecer até tentarmos fazer algo que parece diferente. Pode ser que aconteça algo muito bom e pode ser que aconteça algo ruim. Se for algo bom, estaremos no lucro; se não for, tentamos diferente depois, se for o caso.
O ponto principal é estabelecermos o que de fato é uma limitação nossa e o que é uma dificuldade. Em outras palavras, precisamos descobrir o que dá para mudar e o que não dá. Até lá, precisamos aprender a fazer as coisas mesmo que elas sejam difíceis, e nos superando a cada dia.
Eu tenho forte tendência a desistir das coisas, porque eu tenho dificuldade em ver recompensas a longo prazo. Foi por isso que eu escrevi meu livro em 79 dias. Eu queria que ele ficasse pronto o mais rápido possível. Você ver o resultado no link abaixo.
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