Eis aqui um poema sobre a necessidade de ficar sozinho:
Se eu me desligo
Eu não ligo
Pois às vezes preciso
Ficar só comigo
Para recarregar
Me reconstruir
E só, então
Voltar e agir
Esse poema fala do shutdown. Shutdown é um termo usado para se referir a um desligamento dos sentimentos causado pelo excesso de estímulos, sejam eles recebidos todos de uma vez só ou pouco a pouco por vários momentos que vieram se acumulando. Nem sempre há algo que se possa fazer para “religar” o autista. É um processo difícil de explicar.
Eu comparo o shutdown a cair de uma cachoeira. Não para fazer mais nada além de se deixar levar pela queda, e nada pode impedi-la. Só dá para esperar que chegue ao final para então retornar. Mas, ao retornar, não dá para simplesmente subir nadando; é necessário procurar um caminho mais leve e fácil para dar a volta, e isso leva muito tempo.
Não tem como dizer quando um autista vai voltar de um shutdown. Para os que o observam e aguardam, precisam de paciência. O autista se afasta de tudo e fica em silêncio porque não tem energia para falar. Mas isso não quer dizer que ele seja frio e não se importe com ninguém. É o que ele precisa fazer.
O que ele espera é que as pessoas que afirmaram seu amor por ele continuem ali onde ele as deixou. Ele precisa lidar com o processo sozinho, mas, quando finalmente terminar, ele vai precisar de todos novamente.
Por isso, é imprescindível que todos os autistas fortaleçam sua inteligência emocional e autoconhecimento. Quando mais a gente se conhece, mais rápido a gente volta de uma crise. Conhecer seu mundo interno é uma tarefa para a vida toda, mas quanto mais cedo começar, melhor será.
Eu fortaleci meu autoconhecimento por escrever sobre as coisas que desencadeavam sentimentos negativos e por pensar no efeito da ajuda de outros na minha vida. Meu livro Autismo Aos 26 é o resultado dessa reflexão.
