Eu gosto muito de discussões relativas a tempo. Eu sempre relaciono o que eu sinto com o tempo. Isso porque eu sou naturalmente ansioso, e quem é ansioso pensa muito no futuro.

Eu posso falar muito sobre os efeitos negativos da ansiedade. Uma das coisas que eu asseguro é que todo ansioso coloca o peso do futuro em cima do momento presente, mas o presente não cabe o futuro.

É como ter que encher vários vasos com água. Nessa comparação, temos 3 elementos: o reservatório de onde você tira a água, o vaso que você está enchendo e os outros vasos que já estão cheios.

O reservatório é o futuro. O vaso que você está enchendo é o presente. E os outros vasos que já estão cheios representam o passado.

A ansiedade é como pegar toda a água que está no reservatório e tentar colocar tudo num único vaso! Não tem nem condições disso dar certo. Mesmo sendo bastante ilógico fazer isso, é exatamente assim que eu me sinto frequentemente.

Por isso, eu digo que eu vivo o depois agora. Mas, como é viver o agora depois?

Eu posso comparar isso a um jogo de futebol. Imagine você confiar que vai ter alguém para receber a sua bola, mas aí você toca a bola e não tem ninguém na posição. Isso seria muito frustrante.

Do mesmo jeito, parece que eu nunca estou na posição que os outros esperam que eu esteja. É como se eu estivesse sempre atrasado. Vou citar um exemplo.

Eu fui num casamento recentemente e eu percebi que os meus sentimentos não condiziam com a ocasião. Eu nem consigo mandar uma mensagem de parabéns para o casal. Por quê?

Porque eu tenho medo dos meus sentimentos não valerem a pena serem sentidos. É como se eu não quisesse desperdiçá-los. Vai que o casal se separa depois. Nunca se sabe.

Foi por isso que eu não consegui sentir nada de especial durante aquele casamento. Esse atraso é frustrante, porque todo mundo parecia tão feliz. Ainda bem que o casamento foi feito pela internet, porque, se fosse presencial, eu não conseguiria nem mesmo abraçar os noivos.

O mais interessante acontece quando eu tento compensar esse atraso, como que forçando os sentimentos que eu considero apropriado. Sempre que eu tento, eu entro em crise. Eu literalmente perco o controle de todas as emoções e sentidos. Eu só não nunca chorei em público porque eu sempre saía antes disso acontecer.

Conectada a essa situação, podemos falar do excesso de estímulos, responsável pelas crises no autismo. É como se eu não conseguisse deixar o meu cérebro no modo “automático”.

Por exemplo: eu não consigo aproveitar a música ambiente enquanto converso com alguém, e também não consigo conversar com uma pessoa se eu estiver num lugar com muitas outras pessoas falando. Eu preciso ouvir e sentir tudo que está chegando até mim, e como os estímulos não têm uma ordem definida, eu me perco e entro em crise.

A pergunta mais importante é: como fazer para evitar isso? A solução para mim é simples. Basta eu ir embora e me livrar de todo mundo por perto. Talvez essa não seja a solução mais prática para você.


Eu acredito que eu nunca vou me livrar dessa sensação. Acho que isso faz parte de mim. Então, tudo que eu posso fazer é consertar a situação sempre que alguma estiver para dar errado. Eu preciso prever e preparar um plano de fuga.

Percebeu como que viver “atrasado” me traz prejuízos? Só que viver “adiantado” também é ruim. Eu nunca consigo viver o agora, mas isso não me impede viver bem. Eu só preciso de adaptações e tempo.

Assim, eu espero que você entenda quando eu precisar ir embora de algum lugar repentinamente. Não é nada pessoal. É só uma questão de saúde mesmo, ok?


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