“A menor distância entre dois pontos é sempre uma linha reta.” É isso que diz a física. Entretanto, não existe leis de física quando falamos de lidar com pessoas. Na verdade, eu prefiriria aprender todas as leis de física a ter que entender as regras sociais.

Eu olho para os outros e parece que eles não têm dificuldade nenhuma pra conversar. Eles fazem isso com muita naturalidade. Óbvio que eu tento copiar isso deles, mas fica muito plástico, sabe? Não fica natural como eu acho que deveria. Isso acontece porque não adianta apenas copiar, é necessário usar habilidades as quais eu não disponho no momento, e de outras com as quais eu nem mesmo nasci.

De fato, nós precisamos desenvolver habilidades úteis para vivermos no mundo cuja maioria das pessoas não é autista. Isso é perfeitamente normal. Da mesma forma que para fazer um belo quadro é necessário habilidade para combinar as cores, também são necessárias habilidades específicas para lidar com outras pessoas.

Cada pessoa tem seu próprio temperamento, que varia de acordo com o momento. Além disso, cada uma reage de maneira diferente àquilo que escutam. Algumas entendem de modo mais literal, e outras já sabem logo de cara que se trata de uma brincadeira. Imagine quantas leis sociais seriam necessárias para reger essa quantidade enorme de comportamentos!

O fato que muitas vezes passa despercebido é que elas também precisam desenvolver habilidades para chegar até nós. Nós temos temperamentos diferentes e reagimos de maneira diferente ao que escutamos. Isso significa, portanto, que o mundo é deficiente dos dois lados. Afinal, nos dois faltam habilidades necessárias para efetivar uma relação.

Por isso, a distância que existe para que eu chegue até você é a mesma para que você chegue até mim. O que muda é a maneira como enfrentamos as dificuldades no meio do caminho. Eu não sei se a minha falta de habilidade faz as dificuldades aumentarem ou se elas sempre estiveram lá. De qualquer maneira, desenvolver habilidades para alcançar as pessoas é indubitavelmente necessário.

Mas não podemos nos concentrar nas habilidades que nos faltam. A questão mais importante é: Você, que não é autista, está disposto a desenvolver novas habilidades para conversar conosco? E nós? Estamos dispostos a aprender novas habilidades para conversar com quem não é autista?

Nos últimos meses, eu tenho conversado com mais autistas do que com qualquer outra pessoa. Mas isso não significa que seja fácil. A grande vantagem é que eu posso esclarecer as minhas dificuldades em relação à conversa. Isso é uma coisa que eu jamais faria com outras pessoas. Dessa forma, eu tenho conseguido um repertório de habilidades que têm me ajudado a alcançar os autistas.

Eu pessoalmente acho mais fácil resolver uma equação avançada do que lidar com as pessoas. Mesmo assim, eu pretendo me esforçar para ter bons relacionamentos.


Eu comentei largamente sobre o grande esforço que eu tenho que fazer durante uma conversa no meu livro Autismo Aos 26. Você pode lê-lo clicando no link abaixo.

Leia textos relacionados

Veja outros assuntos neste site