Hoje completo 300 dias consecutivos que estou escrevendo um diário. Será que tanto trabalho assim valeu alguma coisa? Sim. Vou compartilhar brevemente 3 lições que aprendi por manter meu diário por tanto tempo.
Primeiro: Aprendi a ser honesto comigo mesmo, o que me ajudou a ser mais honesto e transparente com outros.
É interessante que as primeiras semanas do meu diário tem apenas fatos e acontecimentos. Eu registrei poucos sentimentos. Mas, conforme você continua lendo, você percebe que eu começo a me sentir mais à vontade e aprendo a escrever sentimentos.
Algumas vezes, eu escrevi chorando. E acho que esse é o objetivo. É muito difícil para mim saber se estou sentindo algo. Eu geralmente não sei o que eu sinto, mas, à medida que eu vou racionalizando minhas emoções, elas vão se tornando cada vez mais reais.
Posso comparar isso a encher um balão. Sentimentos são como o ar dentro do balão: invisíveis. Mas mesmo sendo invisível, ele consegue encher o balão e até deixá-lo mais leve. Não pode colocar demais para não estourar, e não pode colocar de menos para não cair muito rápido.
Quando eu me permito encher de sentimentos, eu sofro bastante, mas, no final, eu fico mais leve. É assim que eu me senti durante esses 300 dias, e posso dizer que foi muito mais fácil lidar com outros por essa “nova habilidade” que eu aprendi.
Segundo: Aprendi a ser persistente e resiliente
Quantas vezes você já parou seus projetos no meio do caminho? Ao ver que o meu diário estava cheio, eu me senti realizado e quis que ele estivesse, não apenas cheio de palavras, mas cheio de significado.
É muito difícil pra mim ver os resultados do que eu faço. Eu quase nunca lembro. Mas o meu diário me avisa sempre que eu alcanço uma certa quantidade de dias consecutivos, e ele até me dá medalhas pela conquista!
Alguns dias eu escrevi muito. Em outros eu escrevo bem pouco. Fiquei doente por alguns tempos. Faltou energia em casa. Senti dores de cabeça, de barriga, crises, profunda tristeza e extremo cansaço. Saber que é possível passar por cima de desafios para continuar certa atividade me deixa mais autoconfiante de que eu posso fazer o mesmo com qualquer outro projeto.
Terceiro: Aprendi que amigos são essenciais para viver bem
Eu já sabia que amizades são muito importantes. Por isso, eu adicionei nomes de amigos queridos no meu diário como se fossem tarefas do dia. Assim, eu posso ir acompanhando quantas vezes eu falei e pensei em cada um deles durante um período.
Eu também mencionei vários outros nos textos. Eu gosto de pensar que, se eles também fizessem seus diários, talvez o meu nome apareceria no diário deles também. Eu acho muito legal ver como tantas vidas independentes se cruzam de modos inesperados.
Diferente de antes de eu saber do meu autismo, eu tenho vontade de manter esses amigos por perto pelo máximo de tempo possível. Confesso que alguns são um verdadeiro desafio à minha paciência, mas eu tenho me esforçado para enxergar além das aparências, e tenho conseguido bons resultados.
Conclusão
Talvez você ache que não tem a mesma disposição que eu de fazer a mesma coisa por tanto tempo. Mas você também pode fazer isso. Se quiser, vou te dar 3 dicas que vão te motivar:
- Comece falando como se outra pessoa fosse ler o que você escreveu;
- Quando não estiver a fim de escrever, escreva: “Não tô muito a fim de escrever hoje porque…” e deixa registrado o motivo;
- Não deixe para escrever só no fim do dia quando estiver cansado. Vá escrevendo aos poucos durante todo o dia;
Sabe, escrever um diário não é tão importante quanto não repetir os mesmos erros do passado. O diário tem que dar significado a mais para a sua vida.
Quando eu comecei, eu queria chegar aos 500 dias. Mas agora eu quero chegar aos 1.000 dias. Até lá, vou celebrando as pequenas conquistas com vocês aqui!
Foi graças ao meu diário que eu pude escrever este livro. E outros também serão escritos com base no que eu deixo registrado. Conheça meu livro Autismo Aos 26, e entenda a razão de eu gostar tanto de registros.
